Friday, November 11, 2011

RETORNO

Gente, retornei depois de meses desaparecida! Sou apaixonada por escrever, como vocês sabem e, mesmo agora depois de meses, tenho recebido e-mails de pessoas que leem meu blog. Me disseram para eu continuar escrevendo pois meu intercambio é eterno e ele nunca acaba. Eu sei de tudo isso, eu sempre soube e eu amo escrever aqui! Entretanto, o tempo no Brasil, a vida, a dimensão das coisas aqui são muito diferentes, aqui o tempo voa, eu faço mil coisas em um dia e eu não paro. Na Dinamarca, eu estava a em introspecção, foi quase uma viagem a mim mesma e escrever aqui quase que semanalmente, era parte dessas reflexões. Hoje estou em um momento muito introspectivo e louca para contar as novidades! E achei um tempinho para isso.
Resumindo: primeiros dois meses eu me sentia perdida. Eu me sentia muito sozinha, sem pátria, eu amava a Dinamarca e no segundo seguinte estava feliz de estar de volta ao Brasil. Eu chorava facilmente, estava mais irritada, não conseguia me conformar com quem eu era. Nesse período e escrevia um diário e, lendo agora, vejo o quão perturbada eu estava. Era difícil e ao mesmo tempo fácil estar com a minha família e amigos. Eu me agarrei a várias coisas para explicar algo muito maior: adaptação. Se adaptar à casa da gente é ainda pior, você é brasileiro, não tem uma desculpa para saber como se portar. Bem, até hoje, quatro meses depois, eu levo meu prato de volta para a cozinha do restaurante do Cursinho, pois eu estava acostumada com isso! Perdi amigas, eu sinto isso, e essa é a parte mais triste. Mas, eu não me importo tanto assim, pois ganhei outros, ganhei mais prioridades. E o processo de perda de uma amizade é lento, não te impacta tanto. Acho que voltei para os verdadeiros amigos, entretanto, às vezes ainda me sinto muito sozinha. E, nessas horas lembro de meus amigos da Dinamarca e como eles se preocupavam comigo e como eu tinha gente ao redor de mim o tempo inteiro.
Voltando ao "resumo". Tentei validar meu ano, fui atrás de todos os documentos, enviei para o conselho estadual. Enquanto esperava, iniciei as aulas da auto-escola e retomei com o teatro na minha companhia ATOR COM MENTA, minha primeira semana no Brasil e já entrei nos ensaios da peça! Rever as pessoas é um processo estranho, alguns amam você e dizem que está igual, outros dizem como você ficou linda, outros não querem mais saber de você. Eu começava a chorar por motivos idiotas e no final, sabiam que era porque eu queria estar com a Anne ou a Charlotte. Meus dois primeiros meses eu sentia saudades da Anne 24 horas. Mas ao mesmo tempo, você não quer voltar pra lá, porque voltar é mais adaptação, mais saudades do Brasil tudo de novo. Eu queria estar no limbo, é essa a sensação da adaptação. Mas sai muitooo com meus amigos, isso foi bom. E aproveitei bastante minha família. Nessa época, eu falava muito com a Dinamarca, lia em dinamarquês. Porém, eu tinha muito medo, medo de que fosse estranho falar com minha família.
Nesse meio tempo, descobri que não validariam meu ano por eu não ter ficado no terceiro ano lá na Dinamarca, todo meu esforço por nada. Entrei em crise, eu teria de voltar mais seis meses pro colégio, ou fazer 13 provas finais sem professor estudando por conta. Escolhi a última opção e chorei uma noite inteira ante essa perspectiva. Estudei muito, com a ajuda de amigos para as matérias mais difíceis e, em dois meses passei de ano! Nem acreditei, fiquei orgulhosa de mim. Ou seja, três meses depois de voltar eu já tinha:
-Passado em 13 provas finais sem professor, estudando em casa
-Passado na prova da auto-escola, ganhado a carteira de motorista!
-Com uma peça de teatro quase pronta
-Me inscrito no vestibular da UFRGS
-Ter feito um trabalho de pesquisa teórica e prática sobre Otelo e Emília e feito o monólogo de Emília para a minha prova de Habilidade Específica da UFRGS (a primeira parte do vestibular, para qual eu estava tão nervosa. A rpova foi ótima, fiz meu monólogo, minha improvisação com frase que eles me deram na hora e ainda uma entrevista sobre a obra. Senti que as professoras julgadoras gostaram de mim, perguntaram se eu já trabalhava com teatro. RESULTADO= APROVADA)
-Iniciei um mês de cursinho para passar na segunda parte da prova, a parte teórica em janeiro.
-Enviei ,eu livro para o Prêmio SESC de Literatura. O livro já estava pronto, cheguei no Brasil, o corregi e duas semanas depois de ter voltado já tinha enviado.
-Fiz uma oficina de dança contemporânea incrível, porém muito difícil.
-Me inscrevi para uma oficina de teatro do melhor grupo de pesquisa teatral do país,o LUME. Carlos Simioni, o ator que nos dá essa oficina, trabalha na Dinamarca com um dos melhores teatrólogos, Eugênio Barba, no Odin Teater, um sonho para qualquer um. E quando eu estava lá eu não sabia disso! E a sede do Odin é em Holstebro e esse cara, o Carlos Simioni, já tinha apresentado até em Ringkoebing! Enquanto eu estava lá! Descobri tudo isso hoje e fiquei indignada! hahaha
-Iniciei meu trabalho como voluntária ativa do AFS desde a primeira semana de Brasil, dando aula de português para os intercambistas 4 horas por semana (já fiz amizade com eles!). Mas, eles parecem tão imaturos para mim agora. Eu vejo a Carina insegura de meses atrás, e de tanto explicar esses processos e escrever no blog e refletir, eu já cansei um pouco dessa excitação do intercambio. Não me emociono mais de ouvir diversar línguas, de falar sobre intercambio, pois essa virou minha rotina, virou um pedaço da minha vida. Não sei se isso é bom, acho que é, quer dizer que o meu intercambio nunca vai acabar, tanto que eu continuo vivendo as diferenças culturais. Não sei explicar o que mudou, eu cresci, é isso. Acho que cresci muito desde que cheguei ao Brasil, não tive tempo de sofrer muito.
Isso é uma coisa que eu queria falar, minha vida aqui se tornou cheia de projetos e possibilidades. Minha vida voltou a uma rotina, mas uma rotina moldada por mim. Isso foi muito difícil, pois eu tenho muito pouco tempo. E então, há trocas, posso ter tido sorte de ter conseguido e batalhado por tudo que queria. Entratanto, não falo mais muito com a dinamarca, meu dinamarques está ficando ruim. Vocês vão me dizer: Não deixa isso acontecer, Cari!" Eu sei, eu me sinto horrível muitas vezes, a única coisa que eu pude trazer de lá foi a língua e o orgulho de ser dinamarquesa, e estou perdendo a língua! Eu me sinto morrendo de saudades, querendo estar lá e ao mesmo tempo com um medo enorme de falar com as pessoas, com uma vontade de estar aqui. E eu respondo a mim mesma que eu não posso me cobrar esse contato, porque agora eu tenho uma vida, eu tenho objetivos, horários que me separam deles por 5 horas e um mundo diferente, onde eles tem horários menos apertados que os meus. Eu estava me matando para falar com eles, mas não era recíproco. E aí? Sei que eles me amam, sei que quando eu volta, por mais que eu tema que seja estranho, vai ser o mesmo. Porém, quando o intercambio é a sua vida, você aprende que quando você está em uma dimensão, não se consegue ter muito contato com a outra, se perde a outra. Tem dias que eu quero resgatar a Dinamarca, eu me orgulho de ter ido para lá, eu me sinto um lixo de perder dinamarques. Mas, vocês acham que eu não fico horas online esperando a anne ou alguém e ninguém aparece? Estava quase certo que a Anne vinha em fevereiro, ela não responde minhas mensagens mais para confirmar. Eu me sinto perdida ainda. Não na minha vida aqui, amo minha vida. Essa semana a oficina do Simioni me deixou ainda mais encantada com teatro, ainda mais por eu ter conseguido a vaga entre somente profissionais do teatro. Amanhã é minha estréia da peça IM-PULsAR. Fiquei triste que vou ter que faltar um dia de oficina para me apresentar, mas eu aprendi isso no intercambio, não se pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Guardo a Dinamarca com demasiado amor e carinho, eu tenho muita saudade, mas uma saudade que eu não percebo que está ali e que eu só acordo às vezes, pois quando o faço me sinto mal. Eu aprendi que o certo é eu viver aqui, não que lá tenha acabado, não é nada disso. É só que a gente precisa crescer e deixar coisas para trás, mas sempre retornar a elas quando puder. Eu amo estar de volta, e mesmo quando eu estava lá, minha cabeça ficava muito no Brasil. Minha conclusão: NADA É COMO A CASA DA GENTE! Ninguém é como nossa mãe de verdade, nosso cachorro, nossa cama, nossos sonhos que começam a se construir daqui. Eu não conto para ninguém que eu morei um ano fora se não me perguntam, mas às vezes me sinto tão especial por ter 18 anos e já trabalhar ativamente nessa organização maravilhosa da AFS e me meter em cursos de teatro e peças bem avançadas. Não sei, eu aprendi isso no meu intercambio, a deixar a cara a bater e se jogar, afinal, lá eu não tinha no que me agarrar, e uso isso para a minha vida agora. Eu me joguei nas provas, no livro, nas oficinas, na minha vida aqui. Mas, ainda assim, quando eu posso falar com alguém que conhece a Dinamarca, meu coração dá um pulo e se enche de orgulho. FORDI JEG VIL VAERE ALTID DANSKER! PORQUE EU VOU SER SEMPRE DINAMARQUESA!
Quanto minha família, cachorro e namorado, tudo está perfeito. Eu voltei com meu namorado quando nossas cabeças se acostumaram com o fato de que não nos falávamos mais por skype, estamos muito bem. Nos amamos ainda mais, e estamos com a relação ainda mais sólida agora. Eu acho que a gente nunca se separou realmente, eu sempre tive muita conexão com ele. Foi bom ter esse tempo para nos descobrirmos. Mesmo assim, vamos fingir que nunca nos separamos, porque daí dia 29 de fevereiro de 2012 vamos comemorar nosso 4º ou 1º aniversário de namoro! :D
Gente, vou escrever assim que der sobre como está sendo legal fazer parte da AFS aqui, ir em reuniões, encontros, ser profe e amiga e ver como as coisas mudam, como a gente muda e enxerga neles uma situação óbvia que já vivemos tanto! hhahaha
Me desejem MERDA pra peça amanhã! Tchauu Hej hej

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